O Setembro Amarelo é muito mais abrangente do que a campanha de prevenção ao suicídio. É a representação de um movimento extremamente necessário, que objetiva conscientizar a todos sobre a importância de cuidar da saúde mental.
Os números relacionados ao suicídio no mundo refletem a urgência em tratar do tema. São milhares de pessoas que autoprovocam sua morte todos os anos, chegando a mais de 700 mil casos anuais, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
No entanto, graças à mobilização de vários setores da sociedade, entre governos, instituições privadas e organizações não-governamentais, além da comunidade em si, a campanha pela vida ganha contornos cada vez mais relevantes.
Nessa perspectiva, elaboramos este artigo
sobre o que é, de fato, o Setembro Amarelo, o que ele representa e como tem
ajudado na conscientização sobre o suicídio. Mostramos, também como é possível
ajudar nesses casos e a quem recorrer em situações de risco. Confira!
O que é o setembro amarelo e
qual é a sua importância?
O Setembro Amarelo é um movimento em prol da vida, que visa esclarecer e informar a todas as pessoas sobre como evitar e prevenir o suicídio. Desde 2003, quando a Organização Mundial da Saúde estabeleceu o dia 10 de Setembro como o marco da campanha de prevenção ao suicídio, o mês tonou-se referência para os diálogos sobre o tema.
A cor amarela foi inspirada no caso do jovem americano Mike Emme, que suicidou-se dentro de seu carro de cor amarela. O fato acendeu reflexões e deu início ao movimento "Yellow Ribbon" — fita amarela, em português.
No Setembro Amarelo, as campanhas de prevenção ao suicídio na mídia se intensificam. As instituições buscam maneiras de fortalecer essa corrente por meio de ações específicas e atividades que estimulem a saúde mental, como palestras e rodas de conversa.
O principal objetivo é oferecer suporte e estratégias de superação a pessoas que possam estar desenvolvendo um comportamento suicida, ou que estejam pensando no ato, além de trazer informações adequadas sobre o suicídio.
Aqui no Brasil, o movimento é
guiado pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), pelo Conselho Federal
de Medicina (CFM) e pela organização não-governamental Centro de Valorização da
Vida (CVV).
O que é o suicídio?
O suicídio é a ação de interromper a própria vida intencionalmente. Ou seja, é quando uma pessoa visualiza apenas essa atitude como a única saída para alguma circunstância pela qual esteja passando.
Não necessariamente ela quer deixar de viver, mas, sim, acabar com o sofrimento. Às vezes, a situação já está presente há muito tempo e se agrava ou, ainda, é nova e gera um desequilíbrio psicoemocional no indivíduo.
De forma mais ampla, existem sinais que
antecedem o comportamento suicida e que são comuns na maioria das faixas
etárias. Em geral, não é apenas um fato isolado que ocasiona essa ação
drástica, mas uma somatória de questões.
Quais são os fatores de risco?
De acordo com a OMS, existe uma correlação alta entre as taxas de suicídio e as condições de saúde mental, como depressão, transtornos bipolares e distúrbios associados ao uso de substâncias químicas, porém essas não são as únicas variáveis a serem consideradas.
Nem sempre a pessoa com algum adoecimento mental irá se aproximar do suicídio, da mesma forma que indivíduos com comportamento suicida podem não ter nenhum quadro de transtorno psicológico.
Outras situações podem fazer parte do
contexto, como:
● tentativas de suicídio
anteriores por parte da pessoa ou no histórico familiar;
●
diagnósticos de condições de
saúde crônicas, agressivas ou debilitantes;
●
traumas;
●
lutos não elaborados;
●
abusos físicos e psicológicos;
●
exposição constante a
humilhações e violências verbais e físicas — como bullying e discriminação de todos
os tipos;
●
instabilidade emocional —
ocasionada por desilusões amorosas, conflitos familiares e de amizades;
●
crises econômicas — falta de
alimentação e moradia, perda de emprego;
●
questões religiosas e
culturais.
Esses são apenas alguns dos aspectos que
podem estar presentes em um quadro de comportamento suicida. É preciso
compreender que cada ser humano é único e sente de maneiras diferentes.
Como prevenir o suicídio?
A principal atitude é prestar atenção às
pessoas à sua volta. Ao conhecer os fatores de risco e os indícios de um
comportamento suicida, a chance de traçar estratégias para ajudar é maior. Veja
o que observar:
●
oscilações de humor repentinas:
quando não há um quadro clínico que justifique e a pessoa age de maneira muito
diferente ao usual. Por exemplo, alguém muito triste que, de súbito, mostra-se
com uma felicidade e tranquilidade atípicas;
●
isolamento constante: o
indivíduo se isola de todos, inclusive familiares, e parece viver em um mundo à
parte;
●
indiferença diante de
acontecimentos distintos: a pessoa fica apática e não reage, emocionalmente,
nem a coisas boas nem a coisas ruins;
●
uso de frases fatalistas, com
padrões de culpa e incapacidade: "Quando eu morrer tudo ficará bem",
"Não sirvo para nada", "Vou sumir deste mundo", "Só
tem um fim para tudo isso";
●
inclusão cada vez mais
frequente do tema "morrer" nas conversas: algumas pessoas podem até
providenciar seguros de vida, testamentos, despedidas e letras de música que
falem de um fim próximo;
●
uso abusivo de substâncias
químicas, como o álcool, drogas e medicamentos;
●
compras estranhas, como
pesticidas e remédios em grande quantidade.
É importante não ter receio de falar sobre o
suicídio: a recomendação é focar nos sentimentos e na saúde mental. Vale perguntar
como a pessoa está, no que tem pensado, se está cogitando o suicídio e explorar
com ela outras opções para solucionar a questão.
Como acolher uma pessoa com
comportamentos suicidas?
O mais importante em situações como essas é estar aberto a ouvir sem julgar. Nessa relação de apoio, não cabem os preconceitos, as represálias, as divergências religiosas e culturais. Cabe apenas amor, empatia e compreensão.
Uma boa alternativa é acompanhar a pessoa na busca por bons profissionais de saúde mental, como psicólogos e psiquiatras, além de estar mais presente até que tudo melhore. Sugerir bons filmes, sites e livros que falem sobre o tema de maneira compreensiva também pode ajudar.
O CVV, em parceria com a Unicef, por
exemplo, tem uma série de mini relatos em vídeos que são interessantes para
fazer com que a pessoa se veja na situação relatada e perceba que existem
outros caminhos. A série faz parte do movimento Setembro
Amarelo.
Qual é a importância da rede
de apoio?
Como diante da situação desafiadora a pessoa não tem um repertório de suporte interno fortalecido, ela precisa de apoio externo para se equilibrar novamente.
É o momento em que a rede de apoio — que pode ser formada por companheiros, familiares, amigos, empregadores, colegas de trabalho e profissionais de saúde — entra em ação. A intenção é que o indivíduo em sofrimento não se sinta sozinho e, de fato, que não esteja desamparado nessa caminhada.
Enquanto sociedade, temos
corresponsabilidade em muitas das situações vivenciadas por uma pessoa com
comportamento suicida. Muitas vezes, todo o sistema em que o indivíduo está
inserido está debilitado e precisa de um novo olhar para a vida e suas
possibilidades. A rede de apoio é mútua.
Onde buscar ajuda?
Na rede pública de saúde existem os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) que garantem ao cidadão atendimento psicológico e psiquiátrico para esses e muitos outros casos. As Unidades Básicas de Saúde e o SAMU — para casos de emergências — também estão aptos a oferecer ajuda.
Além disso, existem muitos profissionais de saúde mental, especialistas em comportamentos suicidas, que podem auxiliar. Aliás, a base da prevenção é cuidar da saúde mental: tudo começa por aí.
Outra alternativa importante na prevenção do suicídio é o suporte de organizações como o CVV, uma das ONGs mais antigas do país, que se dedica a ofertar atendimentos, por telefone — basta ligar 188 para ser atendido em qualquer hora do dia e em qualquer dia da semana —, e-mail e chat. Os grupos de apoio são sempre ótimas medidas.
Todos nós podemos ajudar na prevenção ao suicídio. A causa ganha destaque no Setembro Amarelo, mas é fundamental em todos os outros momentos do ano, porque trata da saúde e do bem-estar das pessoas.
Portanto, podemos nos comprometer oferecendo apoio e cuidando para que nossas ações contribuam com ambientes agradáveis e acolhedores. Mais do que uma campanha, o Setembro Amarelo representa uma rede de amor em prol da vida.
Conteúdo revisado pela equipe de Medicina Preventiva da Unimed Campinas.
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