FOME OCULTA: ESPECIALISTA EXPLICA ESSA FORMA DE DESNUTRIÇÃO SILENCIOSA
Muitas vezes, associamos a desnutrição a uma imagem de pratos vazios, falta de comida e magreza extrema. No entanto, existe uma forma de má nutrição que não se vê no espelho e que pode afetar até mesmo quem está com o peso em dia: a fome oculta.
Ela acontece quando, mesmo que a pessoa esteja comendo o suficiente em termos de quantidade, o corpo não recebe a qualidade de nutrientes que precisa para funcionar bem. O resultado pode ser cansaço constante, falta de concentração e imunidade baixa, sintomas facilmente atribuídos à correria do dia a dia.
Para falar sobre o assunto com propriedade, Unimed Campinas entrevistou a nutricionista Alessandra Galli, que tem pós-graduação em nutrição clínica e metabolismo e em nutrição comportamental. Ela explica o que é essa condição, como identificá-la e, o mais importante, como combatê-la.
O QUE É A FOME OCULTA?
Fome oculta é um termo usado para descrever a deficiência de um ou mais micronutrientes, ou seja, de vitaminas e minerais. Diferente da fome clássica, que está ligada à ingestão insuficiente de calorias, essa condição pode ocorrer mesmo quando a pessoa se alimenta com uma quantidade adequada ou até excessiva de comida. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 2 bilhões de pessoas no mundo sofrem com essa deficiência, o que a torna um problema de saúde pública global.
De acordo com a especialista, essa condição está associada a diversos fatores, como:
dietas pobres em alimentos in natura e ricas em ultraprocessados;
baixo consumo de frutas, legumes e verduras;
pouca variedade alimentar;
técnicas inadequadas no preparo dos alimentos, que diminuem a absorção dos nutrientes.
SINAIS DE FOME OCULTA QUE PODEM PASSAR DESPERCEBIDOS
Um dos maiores perigos da fome oculta é que seus sintomas são sutis e, muitas vezes, atribuídos ao estresse ou ao envelhecimento natural. Isso faz com que o diagnóstico demore a acontecer. Fique atento a alguns sinais comuns:
cansaço excessivo e fadiga constante: pode ser resultado da deficiência de ferro, vitamina B12 ou vitamina D;
queda de cabelo e unhas fracas: a falta de zinco, biotina e vitaminas do complexo B, A e E pode afetar a saúde de cabelos e unhas;
dificuldades de concentração e memória: a carência de micronutrientes como ferro, iodo e vitamina B12 pode comprometer as funções cognitivas;
infecções frequentes: deficiências de vitaminas A, C, D e zinco podem enfraquecer o sistema imunológico;
alterações no humor, como irritabilidade ou tristeza: a falta de vitaminas do complexo B e magnésio pode afetar o equilíbrio dos neurotransmissores.
QUEM SÃO OS MAIS VULNERÁVEIS À FOME OCULTA?
Embora qualquer pessoa possa desenvolver a fome oculta, alguns grupos são mais vulneráveis devido a necessidades nutricionais específicas ou condições socioeconômicas.
CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Em fases de crescimento, a necessidade de micronutrientes para o desenvolvimento físico e cognitivo é maior.
GESTANTES E LACTANTES
A gestação e a amamentação são processos que demandam muito do organismo. Por isso, mulheres que estão vivendo essas fases precisam de um maior aporte de ferro, ácido fólico, cálcio e iodo.
IDOSOS
Com o envelhecimento, a capacidade de absorção de nutrientes pode diminuir, e muitas vezes a dieta se torna monótona ou restrita.
PESSOAS COM DOENÇAS CRÔNICAS E VEGETARIANOS/VEGANOS
Condições como diabetes e doenças inflamatórias intestinais podem interferir na absorção de micronutrientes. Já dietas vegetarianas e veganas, se não forem bem planejadas, podem levar à deficiência de vitamina B12, ferro e zinco.
O IMPACTO DA ALIMENTAÇÃO MODERNA E SEUS EFEITOS A LONGO PRAZO
A rotina alimentar moderna, marcada pela busca por praticidade, levou ao aumento do consumo de alimentos ultraprocessados. Esses produtos geralmente possuem alta densidade calórica, mas baixa densidade nutricional, ou seja, são ricos em açúcares e gorduras, mas pobres em vitaminas e minerais.
Mesmo sem sintomas claros no início, a fome oculta pode causar sérios impactos na saúde a longo prazo. A deficiência crônica de micronutrientes afeta o funcionamento do corpo de forma silenciosa e progressiva, aumentando os riscos de:
comprometimento do sistema imunológico: a carência de vitaminas A, C e zinco aumenta a frequência e a gravidade de infecções;
desenvolvimento de doenças crônicas: a deficiência de micronutrientes está associada a um maior risco de obesidade, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares;
problemas ósseos e musculares: a falta de vitamina D, cálcio e magnésio pode levar à osteoporose e fraqueza muscular, principalmente em idosos.
Para garantir a ingestão correta de nutrientes, é essencial conhecer os alimentos ricos em vitaminas e minerais e como eles atuam no corpo.
COMO PREVENIR E COMBATER A FOME OCULTA?
Combater a fome oculta exige uma mudança de hábitos e mais atenção ao que colocamos no prato.
DIVERSIFIQUE O PRATO
Inclua uma grande variedade de alimentos in natura em suas refeições. Visite a feira, compre frutas, legumes e verduras da estação e inclua grãos integrais, carnes magras e ovos no cardápio. Ter uma dieta saudável e uma alimentação equilibrada é o primeiro passo.
REDUZA OS ULTRAPROCESSADOS
Evite o consumo excessivo de alimentos industrializados, que são fontes de calorias vazias. Planejar as refeições da semana ajuda a fazer compras mais conscientes e evita o consumo por impulso.
EDUCAÇÃO ALIMENTAR É FUNDAMENTAL
Buscar conhecimento sobre alimentação saudável, aprender a ler os rótulos dos produtos e a preparar os alimentos de forma adequada são atitudes fundamentais para prevenir deficiências nutricionais.
BUSQUE ORIENTAÇÃO A RESPEITO DE SUPLEMENTAÇÃO
Em casos específicos, como gestantes, idosos ou pessoas com doenças crônicas, a suplementação pode ser indicada. No entanto, ela deve ser feita sempre com a orientação de um profissional de saúde, pois o excesso de vitaminas também pode ser prejudicial. Antes de tomar qualquer decisão, entenda se a suplementação de vitaminas é saudável ou faz mal.
ATENÇÃO ESPECIAL ÀS CRIANÇAS
Para os pais, a nutricionista Alessandra Galli reforça que paciência e criatividade são essenciais para evitar a fome oculta infantil. Algumas recomendações incluem:
amamentação: O aleitamento materno exclusivo é recomendado até os 6 meses.
introdução alimentar: A partir dos 6 meses, a introdução de alimentos deve ser gradual e variada, oferecendo frutas e legumes frescos.
evitar ultraprocessados: Produtos como biscoitos recheados e salgadinhos devem ser evitados, especialmente antes dos 2 anos de idade.
hábitos saudáveis: Incentive a criança a experimentar novos alimentos sem forçá-la a comer e crie um ambiente positivo durante as refeições.
O corpo é uma máquina e a comida é o combustível para que ela funcione adequadamente. Combater a fome oculta é um ato de cuidado que reflete diretamente na sua energia, bem-estar e qualidade de vida. Reiteramos a importância de uma alimentação balanceada para a sua saúde. Quer entender mais sobre o assunto? Então aproveite para ler o nosso artigo sobre o que é alimentação saudável.